O presidente Jair Bolsonaro emergiu das urnas, nos dois turnos, como a grande esperança de um país menos bagunçado e mais organizado após a devastação que ocorreu nas últimas décadas. Numa análise sociológica posterior, talvez se conclua que ele não foi votado, mas real depositário da fé de milhões de brasileiros.
E a euforia que se seguiu à confirmação de sua vitória, majoritariamente espontânea, foi plenamente justificada pelo sentimento nacional de libertação. O país sentiu-se livre daquilo que percebeu como grilhões políticos ameaçadores.
Ocorre que o presidente, que aparentemente tem em seus filhos um esteio pessoal, o que é positivo, diga-se, chegou ao Palácio do Planalto, ladeado por eles, Carlos, Eduardo e Flávio. Até esse ponto, não há qualquer reparo a fazer. Talvez, quando muito, o cuidado excessivo de Carlos, que seguiu o casal presidencial dentro do carro aberto.
Essa presença ostensiva dos 3 filhos como “eminências pardas” do presidente, porém, tem gerado mais barulho e confusão do que poderia ser solução. O último estrondo é o que atingiu o ministro Gustavo Bebianno.
Denunciado por uma candidatura supostamente laranja em Pernambuco, que recebeu 400 mil reais do fundo de campanha eleitoral, do diretório estadual, Bibiano, salvo investigação futura, não tem nada a ver com a história escabrosa. Como presidente nacional do PSL, ele destinou verbas de campanha para todos os diretórios estaduais, e foram os diretórios que ficaram encarregados dos repasses aos candidatos. Se houve falcatrua, e aparentemente houve, sim, Bebianno não a praticou.
Isso deveria ser suficiente para o Palácio do Planalto usar seu poder para esclarecer a situação e livrar a cara de Bibiano, o que obviamente manteria a denúncia, e a crise que se seguiu, longe da Esplanada e bem perto de Recife.
O problema é que os cabritos do presidente estão na sala e, como se sabe, cristais não duram muito tempo nessas condições. A despeito de toda a crise, pessimamente administrada pelo governo, Carlos expôs o ministro de forma vexatória e despropositada. Bolsonaro avalizou o gesto tresloucado, e a crise se espalhou pelo Planalto.
Pode não parecer, mas esse episódio é o mais grave deste início de governo. E ainda fica um aviso em alerta máximo: se o presidente não retirar seus cabritos da sala, não vai sobrar nenhum cristal, e o pogron (palavra russa que significa “devastação”, “destruição) certamente vai atingir o próprio Bolsonaro e, o que é ainda pior, a própria esperança da qual ele se tornou depositário.